segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011


penso e desmoralizo enquanto desvaneço e protagonizo um papel que nunca escolhi. nunca me foi imposta a condição de escolha, é assim, sempre foi, sempre será. o tempo passa e continuo interpretando o meu papel de flor que não murcha, que não tem falta de água e muito menos de ar. cresço com outras flores, uma morrem outras nascem, ciclo da vida… tu ou ficas ou pões-te a andar. andas, ando, acabo num vaso de flores bem estimado no parapeito de uma janela qualquer, 2ºandar julgo eu. dizem-me bom dia, afagam-me, dão-me água e tenho ar, tenho tudo e faltam-me raízes, um paradoxo, não sei como vives flor, não sei como vivo. trato os meus problemas com a tua fotossíntese, o sol brilha-me todos os dias e sinto-me bem, a lua põe-se todas as noites e fico mal. passa-se o tempo e tempo não me sobra, passa-se o tempo e a peça está cada vez mais perto do fim, passa-se o tempo e continuo longe de mim. então fica-te sol e trata os meus problemas, aquece-me, dá-me brilho e não deixes vir a lua, fico mal, sempre mal. quando deixar de ser flor, vou esperar continuar no parapeito da tal janela, 2º andar julgo eu, e vou continuar a ouvir “bom dia”, e vou ter água e ar e vou brilhar, ao sol. miminho.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um dia normal, como tantos outros aqueles que acordou, meio-dia, como se um mundo não estivesse lá fora, levantou-se e manteve-se por casa - home sweet home não é assim - sem fazer um nada simplesmente arrastou os pés pelo chão e fez o que de melhor sabe, ou não sabe, não interessa. Maria se chamava.
Perdida em cobertores, enrolada nas suas vestes XXL que por acaso devem ser uns quantos tamanhos acima daqueles que veste, pormenores aos quais, claramente, não liga, permanece no seu mundo interior. Almoçada, de pança cheia estende-se aconchegada no seu sofá - lontra. No seu meio êxtase que tem durante Californication (série engraçada), mete-se de pé e e arrasta-se novamente até à sua varanda, como se compensasse o facto de que, não vai sair de casa, breve ilusão.
"Está sol" - pensou. Sentou-se com o portátil em cima da suas pernas, acendeu um cigarro - tão clichê, não fora ela feita de outra coisa senão de pequenos clichês, falta-lhe o café ou o chá do dia, falta-lhe alguém ao lado mas isso faz parte, novamente, de coisas insignificantes aos quais já está habituada quando se encontra por casa.
Observadora, olha em redor, bela vista bela merda. Em frente um prado verde, uma cabra e um velho a cavar a sua horta. Lindo, lindo! Atrás, uma janela, uma cama - um quarto.Perfeito! Para quem se rege pela lei do menor esforço, não se pode queixar. E por falar em lei do menor esforço, Maria, faltou às aulas, mais uma vez, tanta vez, para juntar às outras tantas.
Seria sexta-feira, para ela um domingo... pormenor desinteressante - "Um dia normal, como tantos outros aqueles que acordou" - porque toda a gente acorda, não faria sentido viver a vida a dormir, embora possa sim ser mais interessante, ou pelo menos mais fácil, feliz e claro abundante em sonhos (queira Deus que não hajam pesadelos). Mas sabes que mais, Maria? Não digo, ou digo.
Tanto te critico que acabo de reparar,
o meu dia,
está a ser,
ironicamente,
igual,
ao teu.