segunda-feira, 13 de dezembro de 2010


Mataram-me. Reencarnei como animal, como o teu querido, animal.
Vagueio pela tua casa e tu olhas-me nos olhos e nem me reconheces. Ignorante. Deste-me o nome de Aci, és tão enigmático, são as três últimas letras do meu nome ao inverso, quererá isso dizer alguma coisa, que ainda pensas em mim? Talvez.
Ainda bem que não sou gato, são sete as vezes que teria de me matar para que me acabe esta tortura - tortura sim! - sinto o cheiro a esse perfume rasco a milhas de distância, oiço os orgasmos fingidos de uma a uma que levas até tua casa, escuto as conversas fúteis e banais que tens ao telefone e pensas o quê, que é fácil!? Não, é tortura. Fosse a minha mentalidade de cadela um pouco mais desenvolvida, aprendesse eu a falar, ou até a escrever, bastava-me. Mas não, limito-me a ladrar e fazer aquelas choraminguices caninas que nem ligas! Eu que não acreditava na reencarnação, foi a paga, é o karma... tem sempre de nos fazer pagar. E eu que não sei como me matar? Precisava que me matasses, mas és egoísta! Não me vês! Porque ficaste comigo? Na tua vida de universitário ocupado com álcool e fornicanços de meia hora, porque decidiste enfiar a merda duma cadela dentro do teu nojento cubículo e essa tinha de ser logo eu!? Eu que não tive a culpa de me terem morto, eu que tanto gostei de ti e que tu a mim sempre me trataste como o que agora sou, uma cadela. Puta de ironia, puta de destino. E ainda dizem que a vida é justa? E eu, que não acreditava na reencarnação... e eu, que acreditava no karma?

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