domingo, 24 de outubro de 2010


"Porque não compreendes que sou pequena, que tenho muita alma, que sou muito ingénua,que quero ser feliz e que tu não deixas? Porque me fazes a mim, criança, lidar com coisas que não quero, ouvir coisas que não gosto, sentir coisas que desprezo, ver coisas que chocam, ter problemas que nego? Porque fazes uma tempestade num copo de água? Porque fazes de uma gota de água uma tempestade? Porque fazes de uma brisa um tornado? Porque fazes das coisas simples uma complicação? Porque tornas o amor numa coisa tão má? Será assim tão mau dizer que te amo, porque foste tu que me criaste, mas tão mau que a linha entre esse amor e o ódio se tornou tão transparente que os meus sentimentos se misturam? Tu gostas mais da garrafa do que de mim, e eu sempre gostei mais de ti do que da minha boneca, mas agora já não, agora porque me deixas sozinha? Porque deixas que os outros me levem para longe de ti? Eu amo-te e odeio-te, mas se fico sem ti não sei por onde me virar, foste tu que me ensinaste a brincar. Oh pai não vês que sou uma criança, não vês que sou pequenina? Oh pai, não vás, não vás..."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010





Soubesses tu o quanto me deixas sem jeito, numa bagunça que nem me consigo arrumar. Viras-me do avesso. Quando me vejo ao espelho vejo as veias que me percorrem todo o corpo, se gosto do que vejo? Nem sei que te diga.
Estou numa conformidade que decidi criar um mundo desumano, onde tripas são coração e o resto dos órgãos... não são vitais, são apenas sobras daquilo que decidiste, por alguma razão, deixar ficar.
Leva-me e lava-me a alma, se é que ainda me resta um pouco dela. Sinto-me translúcida, num estado que não sou nem água nem ar, sou simplesmente nada. E nada, nada daqui para fora antes que te magoe, antes que te corte com o ar, antes que a minha água apague o teu fogo, antes que o teu fogo me queime o ar, me queime a mim, antes que me consumas, antes que me mates.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010


446 dias.

Conheceram-se e tudo mudou. Com ele, ela aprendeu que é verdade, que existem pessoas que se completam, que ainda há pessoas que valem mais que ouro, que em três dias se pode ser mais feliz que num mês. Ele ensinou-lhe coisas, sobre ele, sobre ela; ensinou-lhe que só com a maneira como falava, como mencionava tudo com um brilho nos olhos que lhe arrepiava a pele, que o fazia sentir um medo que o aquecia, algo bom, algo que nunca tinha visto, algo que nunca tinha sentido. Era incrível a maneira como as conversas surgiam naturalmente entre ambos e ficavam a falar durante horas sem se aperceberem do tempo a passar, estarem juntos sabia-lhes tão bem, podia-se dizer que faziam o encaixe perfeito. Em três dias, apenas três dias, conheciam-se como que desde sempre.

O terceiro dia. Ela nem queria acreditar no quão rápido se tinham passado aquelas 72 horas. Decidiu mostrar-lhe um pouco mais de si, pegou-lhe na mão e caminhando pela areia levou-o onde gostava de se sentar, de contemplar as ondas, e fala-lhe de como inveja tudo no mar, desde o mais ínfimo pormenor. Sobem, sentam-se - isto é perfeito, mais que alguma vez imaginei. Obrigada por tudo - disse-lhe ele. Olhos nos olhos ela repara naquele brilho que ele lhe falava, por sua vez nos olhos dele, tão profundos. Sente mil borboletas na barriga. Pela sua primeira vez avança, pela primeira vez ela toma o primeiro passo em algo e pela primeira vez eles se beijam. Foi curto, foi doce. Inesquecível o suficiente para que ainda hoje se lembre tal e qual da sensação que teve naquele exacto momento - saudade! - grita-lhe por dentro.

406 dias.

Reencontro. Destruição. Dúvida.

380 dias.

Tudo mudou. As dúvidas que por ele e ela tinham de ser esclarecidas assim o permaneceram, como dúvidas. Ela renunciou, foi fraca, tinha medo do que já tinha decidido. Coisas de idiota.

247 dias.

Ele - Olá, então, tudo bem?
Ela - Olá, está tudo e contigo?
Ele - Também, não me pareces assim tão bem.
Ela - Porque dizes isso?
Ele - Já te conheço.
Ela - Demasiado bem, vejo.

0 dias. (hoje)

Não percebe, ela não percebe como em três dias pôde ser tão feliz e num ano tão infeliz. É uma lição decerto, para a fazer aprender que as decisões têm de ser ponderadas com a cabeça, porque além de uma má decisão, vem aquém uma grande dor de cabeça. Vai além quem cuidava do seu coração.

*****

Ele – Olá! Tudo bem?
Ela – Olá, tudo bem e contigo?
Ele – Também. Quando vens cá?
Ela – Não sei, e tu? Quando vens cá? Quero estar contigo.
Ele – E eu, se soubesses as saudades. Percorrem o caminho, sentes?
Ela – Isso pergunto-te a ti, sentes as minhas?
Ele – Nem tu sabes o quanto.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010