domingo, 28 de novembro de 2010
Não compreendo, vou jurar por Deus (como se nele acreditasse), que não sou capaz de intelectualizar toda essa tua problemática que me tira do sério! Como tens tu a lata de me chamar de cabra, de me negar o que te peço quando toda a minha santa vida te aturei até mais se não!
Vou-te dizer, Maria, tu tiras-me do sério, mas tiras mesmo.
Continuando a nossa história. Eu amo-te, mas de verdade, mas isto assim não dá. Tu estás sempre a ralhar comigo e eu a irritar-me contigo. Faísca. Estás a ver? Volto a dizer, isto assim não dá.
Somos tão extremistas que até a mim me faz confusão, mas já me habituei à ideia, e melhor, já me habituei a ti e à tua maneira de ser, e à minha... à muito tempo. Ai Maria, gostas de mim? Até disso duvido às vezes, mas eu sei que gostas, tens de gostar é aquela coisa do "incondicionalmente" e zumba, parto uma perna a ver. Amanhã vou-me prevenir, mas tu és imprevisível, e não gosto nada de remediações, é tipo doença - os efeitos a longo prazo... só me fodem, só me fodem...
sábado, 20 de novembro de 2010
Ai estúpida, viraste-te contra mim? Não acredito no quão cruel és! Tu tens noção do quanto me fazes sofrer? Não podes, não pode ser assim... sempre nos demos tão bem, amigas lado a lado e vamos ter de o continuar a ser para sempre, senão... senão não aguento. Fazes-me tanto mal, e depois eu é que sou a culpada. O que é que me falta? Não me castigues por algo que eu não tenho pífia culpa. Não te posso prometer nada, não sou boa com promessas, nunca fui, mas vou tentar ser melhor para ti, e tu podias ser melhor para mim. Ai, magoas-me tanto. Maltratas-me, vida má. Tenho escoriações por todo o corpo, e andas-me a matar a mente, não me faças pensar, dá-me serenidade, dá-me descanso. São apenas dezassete anos de mão dada contigo, nunca me quiseste largar e agora estás a dar cabo de tudo. Estás a ver como és? Enganas-me, não posso confiar em ti e ainda assim dou-te o meu bem e tu andas a dar-me o teu mal. Traiçoeira, vida.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Pedes-me para me abstrair da vida, dos problemas e de ti, e achas que eu não consigo? Eu fujo, eu saio daqui e crio um tsunami para que devaste tudo, para que não me restem recordações, porque eu não as quero nem por nada! Eu consumo-me e consumo tudo o que for preciso, e eu apago esta memória que me mata! Eu queimo todas as fotografias e tomo um banho em água a ferver para que de ti, nada tenha, nem uma gotícula do teu suor, nem uma molécula da tua pele na minha. Vou fazer tudo de novo, vou começar do zero e aprender cada vício, o de beber, o de fumar, o da irresponsabilidade e paródia, o do sexo. Eu vou aprendê-los, mas como se nunca os tivesse tido. E não, não vai ser ao teu lado, eu de ti, cansei-me, fartei-me e reciclei-me, como que um plástico que sai novo da central. Vou queimar cada pedacinho meu, e vou sair novo. Tu, sua puta, hás-de me procurar e eu a ti vou-te apagar do mapa. Charlotte? Inexistente. O teu nome, sempre que o vir, hei-de me lembrar - "cabra", deve estar neste momento, a comer... outra cabra. Animal!
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Não deixes - nem me deixes - que nos partamos, era fácil demais, assim, não é belo. Por todas as vezes que discutimos, por todas as vezes que brincamos, pelas vezes que amuas e eu te peço desculpa, pelas vezes que cozinhamos juntos (e é aí que te queimas ou te cortas e me gritas - a culpa foi tua! - e aí está, a bela da tua zanga), pelos passeios e cafés, pelas aventuras de criança que te dá na cabeça ter, pelas vezes que partilhámos a mesma cama ou o mesmo sofá, pelos pequenos-almoços que te levei à cama, pelas vezes que passeámos de bicicleta e fizemos aqueles maravilhosos piqueniques, pelas vezes que fotografámos e pelas nossas fotografias, pelas vezes que dividimos tudo o que tínhamos, pelas vezes que tomámos banho juntos, pelas vezes que passeámos o cão juntos, pelas vezes que sorrimos e chorámos, pelas idas ao cinema, pelas bebedeiras, pela ajuda que me deste e eu a ti, pelas vezes que fizemos amor, pelo amor que temos um pelo outro, não vamos partir.
Já te disse, não és defeito és de feitio... complicado, mas é por isso que gosto de ti, é por não te compreender, por não te conhecer, por teres (ainda) a capacidade de me surpreender para meu bem e meu mal.
É por isso que eu a amo, que eu a tanto amo, e digo - não, isto não dá para partir -. Tu também gostas de mim, eu sei. Não há ninguém como eu, tão meigo, tão compreensível, tão afável, bondoso, carinhoso, paciente, tão tudo aquilo que se tem de ter para te amar, porque sou o teu oposto, e assim tento completar-te. Tu completas-me, mas a ti ainda te falta um pedaço, e é daí que vem a beleza da coisa, és tão impossível de agradar que dou por mim a exigir-me dia-a-dia o mais e o melhor só para ti, e tu gostas, eu sei que gostas...
domingo, 14 de novembro de 2010
Tens de ser:
responsável
ponderada
elegante
educada
pontual
autónoma
bem-sucedida
sociável
optismista
amigável
bondosa
cooperante
voluntária
inteligente
sorridente
liberal
respeitadora
preservada
misteriosa
zelosa
feminina
sensível
delicada
dedicada
lutadora
vencedora
sofredora
sonhadora
encantadora
observadora
criativa
culta
etc
etc
Alguém alguma vez te perguntou o que queres, ou não, ser?
Mais do que poderem afirmar que és ou tens de ser tudo aquilo que querem que sejas, é observarem-te e reconhecerem o que és em cada momento e verem aquilo que sabes fazer com o que és (de melhor), seres mulher, seres tu, com ou sem responsabilidades, sendo ou não bonita e feminina, tendo tu pesadelos em vez de sonhos, sendo tu pessimista em vez de optimista, sendo tu, o contrário de tudo aquilo que esperam que sejas. Surpreende, arrasa, diverte-te, faz espectáculo, mas vive SEM PRECONCEITOS.
sábado, 13 de novembro de 2010
Mas, também quero mudar de vida. Encara isso como uma segunda oportunidade, ser alguém novo, de novo, é aquele zero que anseias. É teres a possibilidade de voltar atrás e não fazer as escolhas que fizeste, é emendares os erros que cometeste, ou fazê-los novamente só porque sim, porque pessoas burras, talvez como eu, fazem-no. É a liberdade para fazeres o que queres e bem te apetece no meio da cidade onde todos te conheciam, e saberes que ninguém sonha quem és! É puderes berrar bem alto! É puderes andar nu no meio da rua. É tudo o que queres fazer e podes, sem consequências, sem pingo de julgamento ou crítica desta sociedade que é mais merda que água benta.
Não me perguntes porque digo ou penso isto tudo... é que é a puta da vida, é porque me fode. Se me fode... e bem.
Assim, escrevam-me, mandem um e-mail, uma mensagem, liguem-me, toquem-no no ombro quando me virem na rua e falem-me de quando quiserem trocar de lugar comigo, quando inventarem essa proeza, vamo-nos trocar, eu sei que a minha puta da vida é fodida, e que me fode bem, mas quem não gosta, que se amanhe. É triste a ideia de que se eu não sou tu, e tu não és eu, então eu não sou tu, e tu não és eu. E se eu não sou tu, e tu não és eu, então tu és tu, e eu... sou eu.
Sou sempre eu, e a puta da minha vida.
sábado, 6 de novembro de 2010
O amor é fodido
Capítulo 1
(...)
"... Tentei acordar-te, levar-te para um hospital, mas já estavas inconsciente e, para além disso, tive medo de te contrariar. Nunca mais me falavas. Perdias logo o pouco amor que me tinhas. Imaginava a tua cara furibunda por estares a fazer figura de adolescente apaixonada, numa enfermaria pública ainda por cima. Deixei-me estar ali na cama, ao teu lado, a ver-te morrer e a pensar no que ia fazer à minha vida contigo morta.
Bons tempos."
(...)
Capítulo 2
"O amor é fodido. Hei-de sempre acreditar nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido.
É melhor do que morrer. Há coisas, como o álcool e os livros, que continuam boas. A morte é mais aborrecida.
Por que é que nós fodemos o amor? Porque não resistimos.
É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo."
(...)
"Estávamos sempre a foder, ou a recuperar, ou a prepararmo-nos para foder. Em nada afectava o nosso amor. Tanto suspirávamos como arfávamos; tanto dizíamos carinhos como palavrões; era-nos igual. A coisa funcionava sozinha. Se exigisse algum esforço da nossa parte, teria fracassado. É uma consolação que resta. O amor é fodido, mas foder também."
(...)
Capítulo 3
(...)
"Já não sei o que dizer. A amargura apanhou-me as mãos em água e em vida. As mãos vão contra os olhos. Mexem. Mentem sempre. Quando me sentam na mesma mesa onde estivemos sentados, parto a loiça toda e como e bebo pelos dois. Deve ser esta minha timidez e esta minha cobardia, que só quando estou longe me vem o coração às mãos e tenho vontade de to oferecer, sem medo que o possas aceitar, tal era o mal que te fazia. (...)
Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e falar-te e dizer-te quanto te amo e como te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto, e chama sem parar por ti."
Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e falar-te e dizer-te quanto te amo e como te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto, e chama sem parar por ti."
(...)
Capítulo 4
" Tenho a impressão de estar feliz.
Não é mau.
Tenho sessenta e quatro anos. Tive uma vida de merda mas a culpa foi minha. O menos que se pode dizer é que tem sido interessante.
Tem graça.
Não me lembro de alguma vez ter estado feliz.
Antes.
Nem em menino.
Senão lembrava-me de certeza.
Porque é muito bom.
Deve ser - por estar, finalmente, ao pé do meu amor.
Meu amor.
Mulher má. Mas é.
Mulher má.
Mas minha.
Teresa.
Deve ser por isso.
Ela também parece não estar triste. Nunca a vi assim.
Mulher dúbia.
Teresa, chama-se.
Anda cá.
Vamos brincar ao "Lembras-te"
Lembra-me lá como é.
Quem se lembrar de mais coisas, perde.
Perde quem se lembrar primeiro.
Tu perdes sempre.
Não vale dizer a verdade.
Ai isso é que vale - desde que não seja.
Está bem."
(...)
"..Não tenho razões para estar feliz, mas feliz é precisamente, aquilo que eu, neste momento, mais estou. Mais, pelo menos, do que em qualquer momento de que me lembre, ocorrido durante a minha tal vida despreocupada e interessante.
É da Teresa.
É desse inferno em pessoa que vem a minha felicidade.
Durante décadas fez de mim um miserável. Mais do que miserável: um ministro dela. Agora fez que deixasse de ser infeliz.
Ai.
Como eu adoro a puta desta vida.
Eu, João. Inválido de qualquer comércio; incluindo o sexual.
Intercâmbio de que eu toda a vida gostei. Até à semana passada.
Queridos Tios.
A semana passada dei a minha última foda. Há uma semana seis caralho. Há uns quinze dias.
Gostei.
Sempre gostei.
Agora tanto se me dá como me deu. A Teresa também não pode foder.
Ela até muito menos que eu.
Ela que fodia tão bem.
Durante aqueles anos todos em que nos demos tão mal.
Em que nos íamos matando.
Em que decidimos morrer.
Teresa.
Lembras-te de quando nos matámos?
Em lembro-me perfeitamente.
Foda-se - já perdi.
Perdeste à primeria, atrasado mental.
Já não me interessa perder ou ganhar.
Mentiroso."
(...)
Capítulo 5
"Vamos brincar ao "estragaste-me a vida quando", que eu já não aguento mais.
Daqui a nada estou a cantar.
A felicidade é contagiosa.
E desinteressante.
Não acontecesse nada enquanto estamos felizes. Só estamos felizes porque já houve alguma coisa que já aconteceu. O que nos vale é a lembrança duma vida de martírio ininterrupto. E de infinito prazer.
Muitas vezes confundem-se não é?
Depende de quem está a contar o quê.
Eu, por exemplo, gostava muito de foder e considerava aquilo um martírio. Tanto esforço, tanto tempo perdido. Mas depois deixou de me apetecer e também isso considerei um martírio, não porque tivesse saudades, mas porque já não tinha nada para fazer.
Tenho saudades do teu rabo."
(...)
"Estou paralítico mas a verdade é que não quero mexer-me.
Se calhar, nunca mais.
Não quero sair daqui.
De ao pé de ti.
Mulher má.
A minha Teresa.
Até que em fim.
O que custou chegar aqui.
Foda-se.
Só de pensar nisso fiquei triste outra vez.
E tu? Continuas feliz?
Aquilo de fingir que estávamos a foder tirou-te o tesão.
Tu és mesmo, mesmo má.
Assimétrica, a mais reles que há.
Vou-me embora.
Na tua cadeira.
Que mundo este, onde até a mobília se mexe.
Não voltes a dirigir-me a palavra.
Estragaste-me a vida.
Fizeste de mim monge,marido e putanheiro.
As três coisas que eu mais abominava ser. Acabei por ser uma ou duas das três coisas quase permanentemente.
Por tua causa.
Por este meu amor.
Matar.
Que eu bem quis matar.
Amor.
Que eu bem traí e mal disse, sempre que se me apresentou uma oportunidade.
Assim como, há muito tempo, te quis matar a ti, estando tu já morta.
Morta.
(...)
Nunca para me vingar. Só para te cortar aos pedacinhos.
Mulher má.
Porque é que me havias de calhar?
Não conheço um único homem mau que não tivesse acertado com uma mulher boa.
Só eu.
Foi azar.
Mulher má.
(...)
Estamos paralíticos; estamos velhos; estamos fechados num lar de terceira idade.
Já não podemos foder.
Mas podemos falar.
Já não podemos fazer maldades.
Mas podemos falar delas.
Já não podemos fazer nada senão falar.
Um dia nem sequer isso.
Estaremos apenas juntos.
Finalmente juntos.
Já é qualquer coisa.
Pode ser que não possamos ser mais separados. Depois de tantos anos.
Tu és a minha Teresa.
O caralho é que eu sou.
Eu sou o teu João.
O que me custam dizer estas frases.
Comparado contigo, eu sou uma boa pessoa.
Lá estás tu.
Sim, boa.
Tu és mesmo uma mulher má.
Sai da minha frente!
Livra-te de ires para muito longe!
Deixa-te circundar nos cantinhos do meu campo de visão.
Para que te veja.
Para te controlar.
Por amar-te estupidamente."
(...)
(...)
(...)
Miguel Esteves Cardoso
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Sabes que mais? Nunca é tarde, nem cedo. Nunca para nós foi de manhã, tarde, ou noite. Sempre tivemos a capacidade de parar o tempo, e sempre e para sempre, todo aquele tempo que parámos, no passado, presente, futuro, foi, é e há-de ser meu e teu incondicionalmente.
"Lembras-te quando..." - doce e cruel diário mental! Matas-me com o teu tempo e estados de tempo - estados de humor!
Quero e vamos fazer um pacto. Vamos deixar de olhar para o relógio, vamos deixar de contar os dias, vamos desapercebermos-nos das semanas, vamos desaprender os meses, não vamos ligar aos anos, e vamos fazer de conta que o tempo parou, só mais uma vez, para me lembrar de como tudo foi... tão perfeito?
Mas matas-me e continuas a matar, porque eu sei que vou morrer, só quando é que não sei.
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